Neuroinovação: As forças por trás da inovação de valor

O mito do gênio de laboratório como inovador nas empresas caiu. Hoje o profissional inovador é aquele que atua somente quando necessário e por meio de ações pontuais nos projetos específicos da empresa tendo em vista sempre a geração de valor para o cliente. E o melhor é possível ajudar a desenvolver profissionais inovadores com a utilização da Neurociência.

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Diante da perspectiva de ganhos acima da média que as inovações podem gerar, as empresas passaram a competir em uma espécie de corrida ao “Eldorado do Lucro”. Corrida essa que consiste em abocanhar o maior número de “profissionais inovadores” e assim ampliar a geração de vantagens competitivas no mercado. Porém, apenas algumas dessas empresas conseguem realmente gerar inovações sistemáticas no mercado e assim ganharem o status de empresas inovadoras. Mas qual o problema então? O problema dessa história é que a maioria dos gestores não definiram (ou não entenderam) muito bem o conceito de “profissional inovador”. Muitos ainda se baseiam na figura de Thomas Edson, Steve Jobs e Dr. Emmett Brown (do filme De Volta para o Futuro, 1985) como profissionais inovadores. Entretanto, a verdade é que essas pessoas são ícones da inovação no mundo todo, e qualquer tentativa de ancorar os resultados de um profissional aos resultados destas figuras pode comprometer o desempenho do profissional e até mesmo da organização. No dia a dia empresarial ninguém precisa (e nem consegue) agir como um “cientista maluco” para gerar valor no mercado o tempo todo. Até mesmo em casa, quem aguentaria alguém assim o dia inteiro? Hoje as inovações devem ser pontuais e precisas no contexto do projeto que está sendo levado a cabo. Portanto, o inovador moderno é aquele que toma decisões pontuais geradoras de valor para si, para a empresa em que trabalha e, em alguns casos, para todo o segmento de atuação.

Nesta altura cabe um questionamento: qual a diferença entre o estudo da inovação de “ontem” para o estudo moderno sobre a inovação? A resposta reside no estudo do cérebro dos inovadores – a neuroinovação. Antes não era possível investigar os pormenores da tomada de decisão no mercado. A partir dos estudos de Daniel Kahaneman na década de setenta e do advento das técnicas de pesquisa do cérebro, por exemplo a o aparelho de Ressonância Magnética Funcional, o rumo dos estudos da inovação na economia conferidos ao brilhante economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) se desviou do imaginado pelos economistas e homens de negócios da era industrial. Logo, a diferença entre o inovação de ontem e a de hoje é que agora é possível identificar e desenvolver profissionais inovadores com base no comportamento e nos mecanismos cerebrais de tomada de decisão.

Muitos estudiosos contribuíram para o surgimento da Neuroinovação, mas sem dúvida alguma o professor de Neuroeconomia da Emory University, Gregory Berns foi quem deu a maior contribuição. Para Gregory Berns (2009), existem basicamente três razões que impedem um profissional de se tornar um inovador de valor:

  • a percepção;
  • o controle do medo;
  • a inteligência social.

A percepção é a tomada de decisão sensorial de objetos ou de acontecimentos exteriores. Pelo menos, essa é a definição segundo a maioria dos dicionários. Mas adaptando o conceito de percepção para a vida econômica. É possível dizer que se trata de um processo de criação de uma noção em relação à um estimulo específico que pode emergir de um estímulo vindo do “exterior” (no caso de uma mensagem publicitária por exemplo) ou do “interior” (quando recordamos ou imaginamos algo e o processo de consciência é iniciado).

Outro ponto interessante sobre a percepção é que ela depende a carga genética do indivíduo, da sua experiência de vida e do ambiente no qual esse indivíduo está inserido. Por exemplo, o recente caso da foto do “vestido azul e preto ou branco e dourado”. De forma viral os comentários sobre a verdadeira cor do vestido ganharam as redes sociais. Muitas pessoas percebiam azul e preto outras branco e dourado. Na verdade o vestido era azul e preto, mas metade e das pessoas o percebeu na imagem compartilhada na internet como branco e dourado justamente pelo componente do “mix de percepção” (Genética, experiência e ambiente).

O profissional que enxerga o  mundo como todo mundo enxerga não gera inovações pois está condicionado ao sistema que lhe foi imposto pelos vários segmentos da sociedade. A única forma de se desgarrar deste sistema é através de uma emersão conceitual e física em ambientes diversos, por exemplo um livro radicalmente diferente daqueles que você normalmente lê, uma viagem, um curso, um emprego novo, etc.

O medo ou a falta de controle dele é o segundo fator que inibe a inovação. O profissional “medroso” não expõe os ganhos que seu produto ou serviço pode gerar aos potenciais (incluindo a própria equipe de trabalho na empresa). Isso porque, o medo altera a percepção, inibe a ação e faz com que o profissional evite os riscos. O medo é um poderoso elemento destruidor de inovações pois uma vez desenvolvido pode durar para sempre.

Contudo, é possível “domesticar” o medo e assim gerar inovações. Estudos recentes com a ajuda de um aparelho de Ressonância Magnética Funcional (RMf) têm mostrado que a amígdala (região do cérebro envolvida nos processos emocionais, em especial no processo de identificação de  estímulos que provocam o medo e funciona como uma espécie de olho de Sauron do filme Senhor dos Anéis pois procura no ambiente potenciais ameaças) tem sua atividade reduzida enquanto que o Córtex pré-frontal (região do cérebro responsável pelo planejamento e julgamento, por exemplo) obteve uma ampliação de sua atividade.

Por fim, o terceiro e não menos importante fator que atrapalha desenvolvimento do profissional inovador é a falta de inteligência social. Este fator já era importante para o desenvolvimento de profissionais inovadores, mas ganhou mais importância ainda na “Era das Redes Sociais”. Contudo não basta se inscrever no Facebook, Linkedin, Twitter ou no Pinterest e depois ficar acompanhando tudo no Klout (aplicativo para mensuração do seu impacto nas redes sociais) é necessário já ter desenvolvido um produto inovador (com a percepção aguçada), apresentado e testado esse produto (por meio do controle do medo) e somente depois disso espalhar as boas novas pelo “mundo todo”. A sociabilidade depende de dois fatores: da familiaridade; e da reputação. Mas qual a razão? Simples, o cérebro busca o todo tempo a otimização dos recursos do organismo para tal ele tenta identificar potenciais oportunidades e ameaças a manutenção das condições ideais do organismo. Logo, se alguém representa uma ameaça potencial, o cérebro tratará de se afastar desta ameaça e assim preservar o funcionamento do organismo.

Inovar não é uma tarefa fácil, por vezes promove a subversão de métodos, processos, ambientes, amizades, imagens entre outras tantas variáveis que estão em jogo. Portanto, o risco existe sim. Mas os inovadores preferem arriscar pois carregam consigo um elemento “desconhecido” para os que estão vendo o jogo acontecer de fora. Esse elemento é a “esperança” Para o inovador esse é o elemento que lhes motiva a buscar o novo, a avançar mais um pouco enquanto a maioria quer ficar onde está, que lhes permite enxergar ganhos onde todos só conseguem ver riscos. Um elemento que mais do que gerar benefícios para si, tem a ver com o bem estar de todos que o cercam

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José Chavaglia Neto é Economista e professor da FGV Management/CADEMP. Pesquisador e palestrante nas áreas de inovação, neuroeconomia, neuromarketing, economia e sustentabilidade. Doutorando em Métodos Quantitativos e mestre em Gestão Empresarial pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE/IUL), com MBA em Gestão de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Especialista em Controladoria e Finanças pela FCETM-MG.


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