Aonde foi parar o seu primeiro beijo?

Em 1953, o paciente Henry Molaison, conhecido como H.M., foi submetido a uma lobotomia para controlar ataques epilépticos. A epilepsia foi contida, mas H.M. não conseguia formar novas memórias declarativas de longo prazo, embora pudesse formar as de curto prazo e não declarativas. Assim: H.M. mantinha uma conversação normalmente, mas assim que o papo terminava e ele começava outra atividade, ele esquecia por completo que aquela conversa tinha ocorrido –esquecia inclusive da pessoa, se fosse uma pessoa “nova”.

O estudo desse caso foi um divisor de águas para as neurociências cognitivas. E ele ficou a cargo de Brenda Milner, considerada por muitos a fundadora da neuropsicologia, que o apresentou à comunidade científica ainda em 1957. (Hoje, aos 102 anos, a dra. Milner continua na ativa e pode ser vista pelos corredores do Instituto de Neurologia de Montreal no Canadá.

A chave para o entendimento do caso H.M. apontou para as áreas que foram removidas durante o procedimento, sobretudo o hipocampo, principal região do cérebro responsável pela consolidação de memórias declarativas de curto prazo. Hoje em dia a neuropsicologia sugere que o armazenamento de cada tipo de memória é distribuído em várias regiões do cérebro. Ou seja, outras áreas além do hipocampo também participam da memória, como por exemplo o córtex cerebral.

Pode ser que alguns leitores lembrem desse post por muito tempo, pode ser que outros já não lembrem dez segundos depois de o lerem. Mas aí a conversa entra em outra região do cérebro, a amígdala, que coordena um dos fenômenos neurobiológicos mais bonitos de nossa vida: a emoção. Ela dá o colorido emocional às memorias, ajudando a decidir quais a gente deve guardar.

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Quem não lembra do primeiro beijo?

Fonte: Artigo: “Em que lugar do cérebro fica a memória?”  de Eduardo Zimmer é bioquímico e professor no Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. publicado no canal Ciência Fundamental/Folha de São Paulo.


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