Neurociência e o processo de tomada de decisão no mercado de capitais

Com os avanços tecnológicos e por consequência das ciências cognitivas, abriu-se uma instigante forma de estudar a mecânica mental por trás do processo decisório. Hoje, cientistas são capazes de mapear em tempo real quais regiões do cérebro são estimuladas quando somos colocados diante de de determinados estímulos (situações). Publicitários e profissionais em comunicação têm se voltado a esses novos insights para se orientar á respeito de quais mensagens possibilitarão maior nível de engajamento, atenção e memorização no cérebro do consumidor e de qual forma (positiva ou negativa) ficará registrada, de modo a criar novas estratégias de comunicação para instruir, orientar e influenciar determinadas decisões do cliente em potencial. O mesmo pode ser feito quando lidamos com investidores. Que parte do cérebro reage ao observarmos ganhos e perdas? De que forma ficam registradas em nossa mente e como influenciam decisões futuras?

Negociar ações em bolsas de valores é uma prática comum e que apresenta muita instabilidade, possibilitando lucro ou prejuízo. Em função do comportamento de investidores que se dedicam a essas atividades que envolvem riscos, o Neuroeconomista Roberto Ivo propôs, em sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina da USP, uma abordagem dos aspectos Neuroeconômicos, com a finalidade de estudar a tomada de decisão, tendo em conta o papel desempenhado pela emoção e seus aspectos fisio-patológicos em graduandos e investidores  (Traders) da BM&FBovespa.

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O projeto teve como objetivo, avaliar o envolvimento de uma ampla rede de circuitos neurais envolvidos na avaliação de riscos, benefícios e conflitos para cada grupo (graduandos e investidores) a fim de verificar como reagem sob determinado ambiente. Foi utilizado neste estudo uma amostra de oitenta (80) pessoas, classificados em quarenta alunos de graduação e quarenta (40) trabalhadores experientes do mercado financeiro (traders), ambos igualmente divididos em 50% do sexo masculino e 50% do sexo feminino. Todos eram submetidos a uma simulação, na qual recebiam 50 mil reais fictícios que deveriam ser investidos em ações. Durante essa dinâmica, os participantes eram submetidos a um eletroencefalograma (EEG) – exame que extrai as ondas cerebrais a fim de se viabilizar a análise do comportamento de determinadas áreas do cérebro através de eletrodos instalados no couro cabeludo. Dessa maneira, o pesquisador pôde compreender quais são os fatores neurológicos ativados durante uma situação de negociação de ações. O economista também detectou as possíveis diferenças neurológicas em relação aos dois grupos de estudo. Essa diferença principal entre os dois grupos foi em relação aos resultados do eletroencefalograma. Roberto conta que durante a simulação, os estudantes tiveram uma “convulsão cerebral” já que praticamente todas as áreas do cérebro eram ativadas de forma intensa. Os traders, por outro lado, apresentaram resultados contrários, pois tinham apenas algumas áreas específicas em ativação durante os momentos de compra e venda. O pesquisador aponta para a área frontal do cérebro como a mais ativa durante o experimento, isso porque é essa região a responsável pela elaboração de estratégias. Outro ponto também levantado é o de que áreas distintas são acionadas em situações de compras e vendas, e essa variação é mais comum nos traders. “Nos traders já não tem tanta ativação no cérebro, porque eles conseguem absorver toda a informação, filtrar as informações e utilizar determinadas áreas do cérebro para atingir aquele objetivo, ou seja, maximizar o lucro”, conclui o economista.Portanto, o principal objetivo da tese foi mapear a atividade cerebral usando conceitos e técnicas da Neuroeconomia, operando uma simulação de negociação da Bolsa de Valores BMF&Bovespa, a fim de compreender melhor a neurodinâmica do processo de decisão no mercado de capitais (AU).

Uma descoberta relevante na teoria financeira-comportamental bem registrada, é que o desprazer associado à perda é superior à sensação de recompensa quando há ganho da mesma proporção. Registramos de forma mais significativa experiências de perdas – a atividade cerebral no hemisfério que reage à sensação de punição e perdas é mais intensa – do que em situações de ganhos. Essa assimetria explica porque temos aversão a perdas e não ao risco. O problema ocorre quando o risco se materializa, traduzindo-se em prejuízo.

Psicologo Nobel e um novo passo para a Economia

Atual professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Princenton, o israelense Kahneman (Ganhador do Nobel 2002) desenvolve teorias das ciências cognitivas para poder analisar como a motivação e o comportamento influencia a economia, usando bases cognitivas para erros comuns, como heurísticas e vieses psicológicos. A teoria, chamada de Prospect Theory, se baseia na premissa de que as pessoas tendem a se assegurar em suas crenças acerca das possibilidades de lucro quando surge a necessidade de tomar decisões econômicas incertas. Ou seja, as pessoas confiam em um número limitado de heurísticas que serviriam para reduzir a complexidade da tarefa de acessar as probabilidades dos resultados advindos de uma decisão qualquer – com um foco na economia, no caso de Kahneman – a fim de tomar a melhor decisão.

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Kahneman também defende que nossa mente funciona de duas formas: Uma rápida e intuitiva e a outra mais devagar, porém, mais logica e deliberativa. Se a primeira forma controla a atividade cognitiva automática e involuntária, a segunda entra em jogo quando temos de executar tarefas que demandam concentração e autocontrole. O Autor desafia-nos a pensar em algumas questões inquietantes: Por que o medo de perder é mais forte que o prazer de ganhar? É verdade que o sucesso de um investidor é completamente aleatório e que sua habilidade no mercado financeiro é apenas uma ilusão?

Atualize-se e compreenda as variáveis inconscientes que afetam e influenciam as decisões dos consumidores e investidores!

 

 

 

 

 

 

 

Fontes:

Kahneman, D., & Tversky, A. (1979). Prospect Theory: An Analysis of Decision Under Risk. Econometrica, 47 (2), 263-292. http://www.jstor.org/pss/1914185
Lima Filho, Roberto Ivo da Rocha (Tese Doutorado, catálogo USP)  /  http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5144/tde-05052014-103307/en.php
Knutson, B. Bossaerts, P. (2007) “Neural Antecedents Of Financial Decisions ”  Journal of Neuroscience, 27, (2007)
Revista USP: http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=6858#
http://financascomportamentais.blogspot.com.br/2009/03/neuroeconomia.html


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